Uma turma recém-formada de 33 voluntários na defesa socioambiental da Amazônia se juntará aos 86 que já atuam nos seus territórios por meio do Programa Agentes Ambientais Comunitários (PAAC). Após participarem de curso com módulos sobre legislação, áreas protegidas, educação ambiental, resolução de conflitos, monitoramento com uso de GPS e drone, combate a incêndios, sobrevivência na selva e primeiros socorros, os novos integrantes agora têm pela frente pelo menos um ano de trabalho para implementarem melhorias para suas comunidades.
A nova turma recebeu as capacitações entre março e agosto e reúne moradores de 12 comunidades da Área de Proteção Ambiental (APA) Paytuna, localizada no município de Monte Alegre, no Norte do Pará, que circunda o Parque Estadual Monte Alegre (PEMA). O PEMA é uma unidade de conservação de proteção integral que abriga as pinturas rupestres mais antigas da Amazônia, datadas de 11 mil anos, importante sítio arqueológico, histórico e cultural. A iniciativa é do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio).
O curso ocorreu no Centro de Visitantes do PEMA, totalizando 104 horas de aulas teóricas e práticas. Além do módulo básico, que pode ser consultado na publicação do Guia de Implementação do programa, a formação teve ainda assuntos de interesse específico das comunidades como a implantação de sistemas agroflorestais e criação de abelhas sem ferrão. Ao final, os participantes elaboraram planos de trabalho para cada comunidade com ações previstas também sobre descarte de lixo, uso de defensivos agrícolas e fogo, monitoramento dos lagos, do desmatamento, além de palestras educativas sobre drogas.
De acordo com Regiane Vilanova, pesquisadora do Imazon responsável pelas capacitações, esses assuntos também foram incluídos seguindo demanda dos próprios participantes. “Em cada local há especificidades, e nós ouvimos a comunidade. Nesse caso, os temas abordados na formação são voltados não só para o cuidado do meio ambiente, mas também para a geração de renda nas comunidades, como a criação de abelhas e dos sistemas agroflorestais, pois foi identificada a oportunidade de geração de renda com a produção de mel e agricultura familiar”, informa a pesquisadora.
José Aristeu Filho, de 26 anos, morador da comunidade Santana do Paytuna, foi um dos participantes do curso neste ano. Ele relata que, além da questão do descarte irregular de lixo, outros problemas afetam a vida comunitária e a natureza. O jovem está confiante e espera que, com os conhecimentos adquiridos, a comunidade se engaje de forma conjunta na resolução ou melhoria dos problemas.
“Sou filho de pescador aposentado e notamos hoje a diminuição dos peixes, por conta da pesca predatória e da falta de respeito ao período do defeso. Há também desmatamento. Tudo isso nos afeta. Eu já tinha vontade de trabalhar com meio ambiente e de tentar mudar algumas situações”, comenta. Ele chegou a integrar outra turma em 2019, mas não concluiu o curso. “Então, agora eu consegui e quero ser um disseminador de tudo que aprendemos, para o bem das próximas gerações”, revela.
Para Patrícia Messias, gestora da APA Paytuna e do PEMA, o Programa é fundamental para despertar o interesse pela conservação da Amazônia. “A participação das comunidades no Programa Agentes Ambientais Comunitários demonstra um envolvimento nas questões de defesa do nosso bioma. E, para nós, ter as comunidades como parceiras é uma prova de que é possível fazer a gestão das Unidades de Conservação considerando os anseios de quem vive nos locais”, comenta a gestora.
Engajamento comunitário
A turma recém-formada seguirá atuando de setembro de 2022 até agosto de 2023, com a implementação do plano de trabalho. O documento é um compromisso firmado entre os comunitários para garantir a execução das atividades, após a etapa de aulas modulares. Segundo Renan Moura, consultor que mediou a atividade, o plano reúne as ações necessárias para cada comunidade, como, por exemplo, a implementação de sistemas agroflorestais (SAFs) para ampliar a geração de renda em pequenas áreas, de forma sustentável.
“Estimulamos os sistemas agroflorestais para geração e diversificação de renda, pois são modelos de cultivo formados por várias espécies diferentes, ao contrário das monoculturas. Além disso, os SAFs contribuem para a recuperação de áreas degradadas”, explica Renan.
Nessa turma, além da área ambiental, foram incluídos outros temas no plano de trabalho como: palestras sobre drogas, que devem ser realizadas em parceria com a Polícia do Pará, e gravidez precoce. “Por mais que o curso seja voltado para capacitação na área ambiental, temas sociais relevantes para as comunidades podem ser abordados também pelos agentes ambientais”, ressalta Renan.
Programa Agentes Ambientais Comunitários (PAAC)
O Programa Agentes Ambientais Comunitários é uma ação de voluntariado criada em 2016 pelo Imazon e Ideflor-Bio na qual moradores de comunidades são capacitados para atuarem como gestores dos territórios onde vivem. Baseado em experiências de outras unidades de conservação do Brasil e do exterior, o Programa já formou comunitários na Floresta Estadual de Faro, na Área de Proteção Ambiental da Ilha do Combu, no Território Quilombola do Ariramba, na Área de Proteção Ambiental Paytuna e em comunidades ribeirinhas do entorno da Floresta Nacional Saracá-Taquera, todas na amazônia paraense.
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