Neste 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, Romário Porohxa, de 29 anos, descreve pacientemente o percurso entre a Aldeia Inajá, onde vive, na Terra Indígena (TI) Mapuera/Trombetas, e a sede de Oriximiná, no Baixo Amazonas: “nosso caminho é inteiro de rio: a gente primeiro vai de canoa, enfrenta corredeiras e pedras, sol e chuva, deixa na vaga do flutuante, e depois pega um barco maior. Sai cinco da tarde de uma terça, por exemplo, e chega só na quarta. Conta aí mais de 24h”, esmiuça, em um Português com sotaque, pela posição de segundo idioma. A língua primordial do jovem indígena é wai wai, do tronco karib.
Vice-presidente da Associação dos Povos Indígenas Trombetas-Mapuera (Apitima), Porohxa é um dos 60 representantes de povos tradicionais atendidos regularmente pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em Oriximiná.
Além da TI Mapuera/Trombetas, a equipe também acompanha a TI Katxuyana-Tunayana e outros grupos que vivem ao longo dos rios Cachorro e Chapéu. Algumas das comunidades situam-se até a três dias de viagem, considerando-se a referência do centro urbano.
“A logística é um grande desafio, por conta da distância geográfica. As visitas presenciais têm que ser programadas em força-tarefa com parceiros. Certas aldeias ficam em área fronteiriça, com Guiana Francesa e Suriname. Conseguimos manter o atendimento por tecnologia remota, como whatsapp”, explica o chefe do escritório local da Emater em Oriximiná, Alexander Valente, técnico em agropecuária e biólogo.
As principais atividades são de subsistência, mas há potencial de comercialização, com o plantio e beneficiamento de mandioca, extrativismo de castanha-do-pará, artesanato de biojoias e cultivo de abacaxi, banana e jerimum.
As estratégias para reforço das tradições, segurança alimentar e alternativa de renda perpassam projetos coletivos de crédito rural do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) ante o Banco do Brasil (BB) e acesso a mercados governamentais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
“Eles vivem bem na natureza. Trabalham muito, produzem alimentos há gerações e gerações, mas claro que precisam de apoio em termos de ampliação e fortalecimento das cadeias produtivas, sob o respeito dos saberes. Indígenas fazem parte da sociedade, têm a história da agricultura familiar ancestral e têm o direito a políticas públicas plenas”, completa Valente.
De acordo com dados da Coordenadoria de Planejamento (Coper), em 2024 a Emater tem atendido de forma direta 486 indígenas, com relevância em 11 municípios: em adição a Oriximiná, ainda Altamira, Belterra, Cumaru do Norte, Jacareacanga, Novo Progresso, Santa Luzia, Santa Maria, Santarém, São Geraldo do Araguaia e Vitória do Xingu.
Desde o ano passado, o contexto para assistência técnica e extensão rural (ater) indígena vem sendo direcionado pela Política de Interesses Difusos e Coletivos (PIDC), um entendimento interno e especializado sobre metodologias e resultados.
Texto de Aline Dantas de Miranda
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