Não caiu nada bem a crítica publicada pelo jornal O Estado de São Paulo nesta segunda-feira (11), sob o título ‘Crônica de um vexame anunciado’, questionando a capacidade de Belém para sediar a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30) em 2025. O artigo, disponível apenas para assinantes, expôs o ponto de vista do veículo paulista, sublinhando uma série de obstáculos logísticos e estruturais da capital paraense e desafiando a decisão de sediar o evento na cidade paraense.
A publicação destaca, entre outros pontos, o déficit de leitos hoteleiros, a precariedade do saneamento básico, a ausência de infraestrutura suficiente no aeroporto e a dificuldade de ampliar o setor de turismo local. Segundo o artigo, sediar a COP30 na Amazônia é uma decisão com forte simbolismo e intenção de visibilidade ambiental, mas a escolha de Belém enfrenta desafios práticos que, segundo o Estadão, “podem transformar o evento em um fracasso."
A crítica levanta questões sobre a situação de Belém, mas também abre espaço para um debate importante. O simbolismo de sediar a COP30 na Amazônia é inegável e estratégico. A cidade de Belém representa o coração da floresta, palco onde o mundo pode ver, ouvir e compreender diretamente o contexto amazônico e os desafios enfrentados pelas comunidades locais e pelo meio ambiente.
A cidade, com sua história e cultura únicas, tem a chance de mostrar a realidade da Amazônia, de modo que a COP30 vá além de discursos: que seja uma experiência concreta para delegados e autoridades.
No entanto, o artigo do Estadão afirma que a infraestrutura atual é insuficiente, citando dados alarmantes, como o fato de apenas 2,4% do esgoto da cidade ser tratado e o percentual significativo da população vivendo em áreas de vulnerabilidade. Além disso, mencionou a limitada oferta hoteleira e a falta de vocação turística, com citações pessimistas sobre o legado que o evento deixaria para a cidade.
O jornal, ignorou, no entanto, que Belém, todos os anos, realiza um dos eventos religiosos mais importantes do país, que a cada ano se supera em número de participantes e turistas visitando a capital paraense durante as festividades de Nossa Senhora de Nazaré, além de outros eventos nacionais e internacionais.
Para muitos, o argumento do jornal reflete uma visão superficial e estereotipada de Belém e da região amazônica, subestimando a capacidade da cidade de se adaptar e ignorando o esforço de mobilização em curso. A crítica ignora também as transformações e investimentos já em andamento. A cidade se prepara, com o apoio dos governos federal e estadual, para receber os milhares de participantes da COP30. São milhões de reais aplicados em melhorias de infraestrutura, ampliação do aeroporto, oferta de linhas de crédito para ampliação de hospedagens e reformas em setores essenciais.
O senador Beto Faro (PT) foi um dos que se manifestou ‘condenando veementemente’ a publicação do Estadão. Para ele, há um desrespeito muito grande com a região Norte. “O mesmo sistema que explora, que consome seus recursos e depois marginaliza, agora levanta dúvidas sobre sua capacidade de sediar um evento global pelo simples fato de ser uma cidade do norte”, escreveu o senador.
Faro relata ainda que o jornal ignora o esforço do presidente Lula que conseguiu convencer a ONU na escolha de Belém. Segundo ele, o debate central da conferência não é sobre a capacidade da cidade, mas sim sobre.
“A nota surpreende porque ataca a capacidade de Belém ao invés de ir à essência do que realmente interessa a humanidade que é a capacidade de fazer uma inflexão nos esforços da humanidade que é combater o aquecimento global e a humanidade”, diz a nota do senador.
“Essa reação expõe uma visão colonizadora que persiste no imaginário de parte da elite e da mídia sulista. Para estes, a Amazônia se resume a commodities, as populações ribeirinhas boas para servirem ao exotismo nas narrativas sobre o país. A Cop-30 será um momento de mostrar quem realmente somos. Um momento em que a Amazônia irá falar para o Mundo”, disse.
Outros críticos apontam o preconceito e centralismo da mídia paulista em relação ao Norte do Brasil, como se a Amazônia fosse intransitável e desprovida de capacidade. “Belém pode não ter uma estrutura como São Paulo ou Rio, mas tem o coração e o simbolismo que a COP30 exige”, disse um ativista ambiental local. "É na Amazônia que estão os maiores desafios e soluções climáticas, e nada é mais coerente do que trazer o mundo para cá e mostrar que precisamos de investimentos, não apenas para uma COP, mas para o futuro de todos."
A realização da COP30 em Belém deve ir além de melhorias temporárias: pode impulsionar investimentos duradouros em áreas como saneamento, turismo e mobilidade. A conferência será uma oportunidade para que Belém mostre ao mundo que é possível crescer e se modernizar respeitando o meio ambiente e a cultura local, abrindo espaço para um desenvolvimento sustentável e inclusivo.
A crítica do Estadão é importante, mas é apenas um lado da questão. É fundamental que a população local e as lideranças políticas entendam o desafio e se comprometam a garantir que a COP30 não se transforme em um legado de obras inacabadas ou de gastos sem planejamento. Ao contrário, que seja uma oportunidade de ouro para Belém e o Pará entrarem na agenda internacional de modo positivo e sustentável.
Embora existam desafios claros, a escolha de Belém como sede da COP30 coloca em evidência a necessidade de um olhar mais inclusivo para o Brasil. O mundo precisa entender a Amazônia, e Belém oferece um palco que poucos locais poderiam. A cidade não deve ser subestimada nem rotulada como uma possível "vergonha internacional" antes mesmo de ter a oportunidade de provar o contrário.
A COP30 será um teste importante para a capital paraense, para o governo e para a população. Mas, ao invés de focar apenas nas dificuldades, é hora de unir esforços para que a conferência seja uma oportunidade de transformação para Belém e de real impacto para a Amazônia.
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